Segundo relatório do JPMorgan, ministra Dilma deve fortalecer modelo de desenvolvimento baseado na intervençãoBanco acha que estabilidade da economia está garantida seja qual for o resultado das eleições, mas vê diferenças entre os dois pré-candidatos
A nove meses das eleições presidenciais, e antes mesmo da definição do quadro de candidatos, vices e respectivos programas de governo, o banco americano JPMorgan opinou que o governador de São Paulo, José Serra, é mais preparado do que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) para lidar com os desafios econômicos "de longo prazo" do país.
No documento, intitulado "Brazilian Election Countdown #3" (Contagem Regressiva para as Eleições Brasileiras #3), Serra é descrito como o candidato mais determinado a remover, "de uma vez por todas", entraves fiscais que inibem o investimento público e impedem a redução mais acentuada das taxas de juros.
"Enquanto a diferença entre os dois candidatos possa não ser dramática no curto prazo, existe a impressão de que a oposição está mais determinada a promover, de uma vez por todas, uma agenda de longo prazo para solucionar os problemas fiscais", diz o texto, distribuído a investidores.
Não há clareza, no documento, quanto à natureza desses problemas fiscais. Existe apenas a menção de que Serra teria mais condições e vontade de promover a eficiência do sistema tributário, eliminando impostos contraproducentes.
Enquanto Serra é descrito como o candidato que eliminaria ineficiências, a ministra Dilma é vista como tendo um viés mais intervencionista.
"Há diferenças entre os candidatos", diz a análise. "Nossa percepção é que, enquanto a candidata oficial irá provavelmente fortalecer um modelo de desenvolvimento baseado no Estado forte e na intervenção pública no setor privado, os problemas de longo prazo serão mais bem tratados pelo candidato de oposição José Serra."
O documento ressalva que, seja qual for o resultado das eleições, os pilares macroeconômicos estarão assegurados. A principal diferença entre os dois possíveis candidatos seria de visão com relação ao papel do Estado e às prioridades.
"Agora que a fase de estabilização da economia acabou e o país parece estar entrando em uma fase de crescimento sólido, há muito em jogo com relação ao planejamento de longo prazo", diz a análise do banco, assinada pela estrategista Emy Shayo e por Fábio Akira Hashizume, economista-chefe do JPMorgan no Brasil.
Procurados, o Palácio do Planalto e a Casa Civil não quiseram se manifestar, assim como o Palácio dos Bandeirantes. Um assessor do governador Serra afirmou que a análise "não tem nenhuma relevância eleitoral".
À Folha, o economista Fábio Akira, um dos dois autores do documento, afirmou que o JPMorgan não pretendeu, com a análise, julgar a capacidade administrativa dos possíveis candidatos. "Não avaliamos pessoas, mas os dois períodos de governo, quase tão longevos: o petista, que completa sete anos, e o tucano, de oito anos.
"Akira também reconheceu que, para avaliar melhor as prováveis candidaturas, é preciso esperar a definição dos candidatos a vice e dos respectivos programas de governo.
Folha de S. Paulo - 08/01/2010
MARCIO AITH